Panorama Político | 24 de Outubro de 2025

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
RESTABELECENDO O EQUILÍBRIO
Diante de um ambiente de pressões crescentes, o governo dedicou a semana a tentar restabelecer o equilíbrio entre suas dimensões política, federativa e fiscal. No plano orçamentário, o adiamento da votação da LDO expôs a dificuldade de coordenação com o Congresso e a fragilidade da base em torno das metas de 2026. Na área de segurança pública, o ministro Ricardo Lewandowski apresentou um pacto nacional que busca transformar cooperação federativa em instrumento de autoridade e gestão. Já no núcleo político, a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência simbolizou uma tentativa de reorganizar a sustentação do governo por dentro, abrindo espaço à esquerda sem romper o delicado arranjo que garante governabilidade no centro.
BOULOS SECRETÁRIO-GERAL
A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência simboliza mais do que uma simples troca de comando na Esplanada. Trata-se de uma reconfiguração silenciosa das forças que sustentam o governo, com o PSOL conquistando, pela primeira vez, um espaço central na estrutura de articulação política do Executivo. A decisão de Lula representa uma inflexão estratégica: ao redistribuir poder entre o PT e o PSOL, o presidente amplia a representação da esquerda institucional dentro do governo e reposiciona o eixo de sustentação de sua base social, especialmente em um momento de desgaste da interlocução tradicional com movimentos populares.
As reações foram imediatas. No núcleo petista, o gesto foi lido com ambiguidade, como sinal de generosidade política, mas também de alerta interno. Márcio Macêdo deixa o cargo após consolidar pontes com o centrão e setores empresariais, enquanto Boulos chega com a missão de renovar a linguagem política do governo e reconectar o Planalto às ruas. A entrada do PSOL no coração do Executivo foi celebrada por sua militância como um avanço histórico, ainda que envolta em incertezas sobre a capacidade do partido de equilibrar o discurso contestatório com a prática institucional. Entre aliados, há quem veja no movimento um teste de convivência entre diferentes matrizes da esquerda, e entre adversários, um indício de que o governo caminha para dentro de sua própria bolha ideológica.
A aposta de Lula é de alto risco. Ao abrir espaço para o PSOL, o presidente antecipa o debate sobre sucessão e governabilidade, tentando transformar diversidade em coesão. O desafio de Boulos será traduzir ativismo em gestão, convertendo bandeiras de rua em resultados administrativos, sem perder legitimidade política. O sucesso dessa integração pode inaugurar uma nova etapa da relação entre Estado e sociedade civil; o fracasso, porém, ampliaria tensões internas e reforçaria o isolamento do governo no centro do espectro político.
O PACTO DE LEWANDOWSKI
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, apresentou ao Congresso um projeto de lei que endurece o combate às facções criminosas e redesenha a política de segurança sob uma lógica de integração federativa. A proposta amplia penas, autoriza infiltração de agentes, cria um banco nacional de dados sobre organizações criminosas e prevê confisco de bens de integrantes e financiadores. O discurso é de reconstrução da autoridade estatal diante do avanço territorial do crime organizado, com ênfase na coordenação entre União, estados e municípios para fortalecer a capacidade de resposta do Estado.
Governadores e prefeitos saudaram o plano como uma tentativa de coordenação nacional inédita, especialmente, com o programa Município Mais Seguro, que amplia o papel das guardas municipais. No Congresso, parlamentares de centro-direita elogiaram a iniciativa, enquanto parte da esquerda demonstrou cautela diante do aumento de penas e das novas ferramentas de investigação, que incluem infiltração e uso de empresas de fachada. A oposição vê na proposta uma resposta ao sentimento de medo que domina o eleitorado, sugerindo que o governo busca capitalizar o tema da segurança às vésperas de um ano eleitoral.
O novo pacto de Lewandowski inaugura um dilema entre o simbolismo da lei e a efetividade da execução. Ao converter o clamor por segurança em política de Estado, o governo busca reconstruir a confiança na presença pública em territórios vulneráveis, mas arrisca reproduzir a retórica punitiva sem resultados estruturais. A força da iniciativa dependerá menos do rigor das penas e mais da capacidade do Estado de coordenar suas próprias forças, integrar políticas sociais e superar a inércia federativa.
Entre em contato
Email: contato@maltaadvogados.com
Tel: +55 (61) 3033-6600 | (11) 4858-9711 | (41) 3891-0504
Passe o mouse
Tel: (61) 3033-6600 | (11) 4858-9711 |
(41) 3891-0504