Panorama Político | 30 de Setembro de 2022
Foto: Marcos Serra Lima/G1
O ÚLTIMO DEBATE PRESIDENCIAL ANTES DO 1ºTURNO
O último debate presidencial antes do 1º turno envolveu sete candidatos(as) à presidência: o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL); o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e ex-ministro do governo Lula; a senadora Simone Tebet (MDB); a senadora Soraya Thronicke (União); Padre Kelmon (PTB); e Luiz Felipe D´Ávila (Novo), fundador do Centro de Liderança Pública (CLP) e genro de Abílio Diniz.
Os candidatos tiveram a oportunidade de fazer perguntas entre si ao longo de 4 blocos de perguntas. O primeiro e o terceiro blocos foram com temas livres, enquanto no segundo e no quarto houve o sorteio de temas previamente definidos. Todos os candidatos tiveram a oportunidade de participar de todos os blocos. Os tópicos de discussão foram: combate ao racismo, relação com o Congresso, meio ambiente e emprego.
Simone Tebet questionou Bolsonaro sobre meio ambiente. O candidato, em meio às críticas de sua gestão sobre preservação ambiental, afirmou que em sua gestão as matas estão tal como “na chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil”. Ainda destacou que o armamento do “homem do campo” garantiu maior segurança na zona rural. Ao final, afirmou que Simone Tebet estaria “com muito ciúme de Tereza Cristina, que tirou sua vaga para o Senado por Mato Grosso do Sul”. Simone Tebet respondeu que, caso eleita, os órgãos de fiscalização terão recursos para atuar contra o desmatamento ilegal.
Para Padre Kelmon, as universidades são locais para formar “soldados militantes da esquerda”. Já Ciro Gomes destacou o sucesso da educação do Ceará, para reafirmar sua proposta de melhoria da qualidade do ensino público.
Sobre a relação com o Congresso, Bolsonaro disse que “botou um ponto final no toma-lá-dá-cá" sobre a troca de apoio do Parlamento na definição de ministros. Entretanto, em resposta, Luiz Felipe D´Ávila ressaltou que foi no governo de Bolsonaro que o orçamento secreto foi aprovado e utilizado para garantir votações favoráveis no Congresso. Bolsonaro afirmou que não existe conivência sobre o orçamento secreto, já que a gestão de recursos cabe ao relator. Além do mais, disse que a relação entre Executivo e Legislativo é realizada por seu ministro Ciro Nogueira.
Ciro Gomes questionou Bolsonaro afirmando que o orçamento secreto desenvolvido na sua gestão foi “a mais grave institucionalização da corrupção como elemento central de poder”. Em resposta, Bolsonaro disse que não possui a autoridade que Ciro Gomes afirma, pois não se “vive numa ditadura, não tem o comando como (ele) diz que tem”. Quanto ao orçamento secreto, afirmou que “a última palavra sempre é do Parlamento”.
Felipe D´Ávila afirma que devemos superar “o manicômio tributário” para promover uma economia forte internamente e competitiva externamente. Afirmou que, com os governos de esquerda, o Estado seria o principal agente econômico, prejudicando a competitividade da economia do Brasil no exterior. Duas questões que devem avançar são a reforma tributária e a reforma trabalhista.
Padre Kelmon direcionou suas críticas a Lula, destacando os casos de corrupção e as prisões do alto escalão de seu governo. Em resposta, Lula afirmou que foi absolvido. Quanto à interrupção de sua fala por Padre Kelmon, afirmou que “candidato laranja não tem respeito por regra” e possui um “comportamento de um fariseu. Um candidato de fachada para enganar o povo que assiste ao debate”. Sobre a corrupção, destacou que, em seu governo, foram estabelecidos diversos mecanismos para mitigar a corrupção, como o Portal da Transparência, a ampliação da atuação fiscalizadora da CGU em todos os ministérios, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, a lei contra a lavagem de dinheiro, a atuação da AGU e o monitoramento do Coaf.
Ao final do quarto bloco, cada candidato teve um minuto e meio de fala. A ordem foi sorteada. O primeiro a discursar foi Luiz Felipe D´Ávila. Em sua fala, destacou que o debate foi uma baixaria e expôs um país dividido há mais de uma década entre nós e eles, entre dois candidatos corruptos. Reforçou que seu partido, o Novo, é o único partido com candidatos “ficha limpa”.
Em seguida, Ciro Gomes expôs que os radicais lulistas e bolsonaristas não escutam ninguém e se apresentou como o “candidato que reconcilia o país” contra o mesmo modelo econômico que perpetua a pobreza e a desigualdade. “Não deixe o sistema entrar na sua cabeça”, disse.
Padre Kelmon buscou o eleitorado religioso, destacando que foi atacado com ódio no debate e que este ódio será direcionado aos cristãos. Além disso, buscou angariar votos para a sigla do PTB, o “partido que defende Deus, pátria, família, vida e liberdade”.
A candidata Soraya Thronicke reafirmou que seu compromisso não é com números, como fazem muitos candidatos, mas com a mudança da cruel realidade de famílias e crianças que passam fome. Sua candidatura não tem um apelo pessoal, busca a construção de um país melhor.
Simone Tebet destacou que o dia 2 de outubro é a oportunidade de decidir por um futuro melhor para o Brasil. A reflexão é sobre a escolha, a qual não deve ser pela opção menos ruim, mas pela que “está no seu coração”. O debate foi o prenúncio da continuidade da polarização e do ódio, que permanecerá caso um dos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas sejam reeleitos. “Um não vai deixar o outro governar”, disse. Pontuou ainda que irá governar com “a alma de uma mulher e o coração de uma mãe”.
Lula destacou que sua vida como agente político mostra que não só governou, mas cuidou do povo, gerando qualidade de vida e perspectiva de futuro aos mais carentes, com melhorias de acesso à educação e à saúde. Além disso, destacou sua atuação com outros países e a imagem do Brasil diante do mundo durante sua gestão como presidente.
O último a discursar foi o atual presidente, Bolsonaro, que iniciou sua fala com o jargão “Deus, pátria, família e liberdade”. Segundo ele, com seu governo, o Brasil está há quatro anos sem corrupção e sem ideologia de gênero nas escolas. Disse que se trata de um governo que preza pelo livre mercado e é exemplo de recuperação econômica, com uma das gasolinas mais baratas e com um programa social dos mais abrangentes do mundo. Ao final, enunciou outro jargão de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Este debate é considerado o último grande ato de campanha, embora, diante da comunicação e publicidade das redes sociais, tenha uma importância cada vez menor. Entretanto, o debate pode ser decisivo para diminuir ou aumentar a vantagem de um candidato sobre o outro, o que pode definir uma eleição no 1º turno.
Especialistas consideraram que o debate não deve alterar sobremaneira os percentuais dos primeiros colocados em intenção de voto. Considera-se que a grande beneficiada do debate foi Simone Tebet, que não deve “roubar” votos de Lula ou Bolsonaro, mas de Ciro Gomes. O destaque para Soraya Thronicke se deu pelo seu embate com Padre Kelmon, quando o definiu como “padre de festa junina” e “cabo eleitoral do candidato Jair Bolsonaro”. Thronicke também disse que, assim como Bolsonaro, Padre Kelmon é um candidato “nem, nem. Nem estuda, nem trabalha”.
O último debate, que teve recorde de Ibope e poderia servir para convencer indecisos, foi utilizado para reiterar a retórica sobre a corrupção no governo Lula e a frustração de Ciro sobre seu parco desempenho, além dos escândalos sobre as compra de vacinas, as supostas rachadinhas e as compras de imóveis no governo Bolsonaro.
A expectativa sobre o embate direto entre Bolsonaro e Lula foi frustrada. No início do debate, houve acusações recíprocas. De um lado, Bolsonaro afirmando que Lula era “mentiroso, presidiário e traidor da pátria”. Em resposta, Lula afirmando que, quando eleito, editará um decreto anulando os sigilos de Bolsonaro. Oportunidades não faltaram, mas coube a Padre Kelmon a tarefa de atacar Lula.